Indígenas invadem área da COP30 em Belém e cobram mais participação nas decisões climáticas

Protesto durante a abertura da conferência expôs tensões sobre o papel dos povos originários na proteção da Amazônia e nas negociações globais sobre o clima.

Um grupo de indígenas e ativistas ambientais invadiu na noite de terça-feira (11) uma das áreas restritas da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada em Belém (PA). O protesto cobrou mais espaço para os povos originários nas decisões sobre o clima e denunciou a exploração da Amazônia.

Invasão e confronto

De acordo com a organização do evento, os manifestantes romperam o bloqueio de segurança por volta das 19h e entraram na chamada “zona azul”, espaço reservado a delegações e negociadores internacionais.

O grupo carregava faixas com frases como “Our land is not for sale” (“Nossa terra não está à venda”) e “We can’t eat money” (“Não comemos dinheiro”). Eles cantaram músicas tradicionais e discursaram em defesa da floresta antes de serem contidos por seguranças da ONU e das autoridades brasileiras.

Dois seguranças tiveram ferimentos leves, segundo nota oficial. A estrutura do evento sofreu danos menores, e ninguém foi preso.

Reivindicações

Os manifestantes pediram maior participação indígena nas negociações climáticas e o fim das atividades que ameaçam a floresta, como o garimpo, o desmatamento e a mineração ilegal.

Entre as pautas apresentadas estão:

  • Demarcação e proteção das terras indígenas;
  • Inclusão de representantes originários em todas as etapas das discussões da COP;
  • Financiamento e reparação para comunidades afetadas pela crise climática.

Segundo lideranças presentes, as decisões tomadas em conferências como a COP30 “não representam a realidade de quem vive na floresta”.

Reação e repercussão

O protesto aconteceu durante a abertura da conferência, que pela primeira vez é sediada no coração da Amazônia.
Em nota, a ONU afirmou que reconhece o papel essencial dos povos indígenas na proteção do clima e prometeu “ampliar o diálogo com as comunidades locais”.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, disse que o episódio mostra a necessidade de maior escuta dentro das negociações. “O recado foi claro: não há justiça climática sem ouvir quem protege a floresta todos os dias”, afirmou.

Contexto

A COP30 reúne representantes de quase 200 países para discutir medidas de redução de gases do efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas.
A escolha de Belém como sede foi simbólica: a cidade é porta de entrada para a Amazônia, uma das regiões mais importantes para o equilíbrio climático global.

Especialistas apontam que o protesto revela a tensão entre os compromissos ambientais assumidos por governos e a realidade das comunidades que vivem sob pressão de desmatamento e exploração econômica.

“Queremos ser ouvidos”

Para os indígenas, a invasão foi uma forma de chamar atenção para o que consideram uma contradição: discutir o futuro da floresta sem dar voz a quem vive nela.

“O mundo fala em salvar a Amazônia, mas nós continuamos sendo ignorados. Queremos participar das decisões, não ser figurantes”, disse o líder tupinambá Gilmar Tapajós, um dos participantes da manifestação.

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